Em editorial crítico à política fiscal do governo Lula (PT), o jornal O Estado de S. Paulo indicou que o presidente é “eficaz na arte de vender ilusões”, pois estaria adotando “a regra número 1 do manual do demagogo”, que consiste em “mascarar a expansão de gastos”, “obrigando a sociedade a pagar a conta” após o fim de seu mandato. Com base em pesquisa da FGV Ibre, o periódico afirma que a maquiagem dos gastos abusivos vinha sendo reduzida após um pico com o governo Dilma, mas agora se encontra sem limites com o novo governo Lula.
No texto intitulado A Conta da Política Fiscal, o jornal observa que a estratégia dos populistas consiste em “rifar o crescimento sustentável no futuro para fabricar um bem-estar efêmero no presente”. E aponta que, embora o governo atual se queixe por ter herdado despesas contratadas sem fontes de financiamento por parte da gestão antecessora – comandada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) -, o lulopetismo é o “grande responsável pela disfuncionalidade fiscal cujo preço se vê, por exemplo, nas cotações do dólar”.
– A contabilidade criativa vinha sendo reduzida nos últimos ciclos eleitorais. O déficit real de 0,7% do PIB, ao final de seu mandato [de Jair Bolsonaro], foi de 1,2% ao final de Dilma 2/Temer e de 3,5% ao final de Dilma 1 (1,8% de déficit primário, mais 1,7% de gastos ocultos). Para piorar, o período pré-eleitoral em Dilma 1 foi marcado por fortes intervenções no câmbio para baixar momentaneamente os preços das importações, o que não aconteceu nem no governo Temer, nem no governo Bolsonaro – apontou o jornal.
O Estadão ainda assinalou que a própria Dilma “só agravou a degradação herdada de seu criador”, apontando que a situação fiscal se “deteriorou continuamente” ao longo dos primeiros governos Lula, após a estabilidade advinda da reestruturação fiscal do governo FHC (Fernando Henrique Cardoso).
– Nos últimos anos houve, como diz Haddad, aumentos de despesas obrigatórias sem fonte de financiamento, como no Bolsa Família, Fundeb ou emendas parlamentares, todos apoiados pelo PT. Ainda assim, o gasto primário do biênio 2021-2022, de 18,1% do PIB, foi inferior aos 19,5% de 2019, pois o salário mínimo e os gastos com saúde e educação eram ajustados pela variação da inflação, portanto, sem aumento real – apontou o periódico.
Segundo o jornal, os pesquisadores da FGV Ibre pontuam que o governo Bolsonaro “fez uma ‘escolha’ para acomodar a elevação das despesas, e, se o modelo tivesse sido mantido nos quatro anos subsequentes, teria criado um espaço fiscal de um ponto porcentual do PIB. Já o governo Lula ‘não fez escolha nenhuma'”.
– O salário mínimo agora é reajustado pela inflação e pelo crescimento do PIB, enquanto as despesas com saúde e educação voltaram a ser vinculadas às receitas. A arrecadação aumentou, mas os gastos aumentaram mais e 2023 voltou a registrar um déficit de 1,6%. Para piorar, o governo elevou gastos parafiscais – como bolsas para estudantes ou empréstimos via fundos públicos –, que não passam pelo Orçamento, mas pressionam a dívida – apontou.
O veículo de imprensa finaliza seu texto lembrando que, quando Bolsonaro aumentou temporariamente o Bolsa Família em 2022, Lula afirmou que tratava-se de uma medida semelhante a sorvete: “chupou, acabou; fica com o palito na mão”. Entretanto, ao reassumir a Presidência, o petista estaria produzindo ainda “mais sorvetes, com novos sabores, empurrando para 2027 um ajuste fiscal amargo”.
O jornal conclui instando a sociedade a punir os populistas nas urnas eletrônicas.