(Folhapress) Ao menos 12 brasileiros morreram em combate na Guerra da Ucrânia desde desde que o país do Leste Europeu foi invadido pela Rússia, em fevereiro de 2022, afirmou o Itamaraty à Folha de S. Paulo neste domingo (1º). O número não contabiliza o caso de Tiago Nunes, que atuava como voluntário no conflito antes de ser morto na última quinta-feira (28).
Embora tenha sido anunciada pela Prefeitura de Rurópolis (PA), sua cidade natal, a morte do jovem de 19 anos não foi oficialmente confirmada, e por isso não está incluída no balanço. A pasta, no entanto, diz ter ciência do desaparecimento do brasileiro e afirma estar em contato com a família.
Uma das vítimas é Antônio Hashitani, 25, que estudava na PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e decidiu deixar o curso no ano passado para atuar na guerra. Ele morreu como voluntário em um grupo paramilitar que travava combates na região de Bakhmut, palco de uma das mais sangrentas batalhas do conflito.
Antes, em 2022, o ministério já havia divulgado a morte de pelo menos outros dois brasileiros: do gaúcho André Hack Bahi, 43, que atuava como socorrista pela Legião Internacional de Defesa da Ucrânia, e de Douglas Búrigo, 40, que fora do Exército Brasileiro e morreu em Kharkiv, no leste do país invadido.
A região é uma das anexadas pela Rússia ao longo do conflito, ao lado de Donetsk, Luhansk e Zaporíjia. Atualmente, 18% da Ucrânia, incluindo a península da Crimeia, tomada em 2014, está sob controle de Moscou, apesar de as anexações não serem reconhecidas internacionalmente.
Na última sexta (29), no entanto, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, mencionou durante uma entrevista a possibilidade de renunciar temporariamente a esses territórios em troca de um convite para aderir à Otan, aliança militar ocidental que apoia Kiev no conflito.
A proposta tenta garantir alguma segurança futura ao país em uma negociação ao menos um pouco mais atraente ao presidente da Rússia, Vladimir Putin. A mudança de tom ocorre após Donald Trump vencer as eleições presidenciais dos Estados Unidos, no início de novembro. Crítico da ajuda bilionária de Washington a Kiev, o republicano disse durante a campanha que poderia encerrar o conflito em algumas horas, embora não tenha dito como faria isso.
Em entrevista à Sky News, emissora com sede no Reino Unido, Zelenski disse que o plano se baseia no pressuposto de que o convite para entrar na Otan deve ser feito a todo o território internacionalmente reconhecido, não apenas a uma porcentagem dele. Como a Ucrânia não poderia reconhecer qualquer porção de seu solo como russo, Zelenski cederia as parte do país reivindicadas por Moscou para a adesão se aplicar apenas ao que é controlado por Kiev.
“É uma solução para interromper a fase quente da guerra, porque podemos dar a adesão à Otan apenas para a parte da Ucrânia que está sob nosso controle”, disse. “Depois a Ucrânia poderá recuperar a outra parte de seu território por vias diplomáticas.”
Segundo Zelenski, esse compromisso garantiria que a Rússia não voltaria a atacar seu território.
No mesmo dia da entrevista, a agência de notícias Reuters afirmou ter visto uma carta em que o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiha, pede a seus colegas da Otan para emitir um convite a Kiev durante uma reunião em Bruxelas na próxima semana.
O texto e a entrevista refletem o novo esforço da Ucrânia para garantir a adesão ao grupo —parte de um “Plano da Vitória” apresentado em outubro passado por Zelenski.
Na carta, a Ucrânia diz aceitar a recusa em se juntar à aliança até que a guerra termine, mas argumenta que um convite neste momento mostraria a Putin que ele não poderia alcançar um de seus principais objetivos —impedir que Kiev se torne membro da Otan.
“O convite não deve ser visto como uma escalada”, escreveu Sibiha na carta. “Pelo contrário, com a clara compreensão de que a adesão da Ucrânia à Otan é inevitável, a Rússia perderá um de seus principais argumentos para continuar esta guerra injustificada.”