Um grupo de sete países europeus divulgou uma declaração conjunta neste sábado, pedindo que a Venezuela divulgue as atas da eleição presidencial de 28 de julho para "total transparência e a integridade do processo eleitoral".
A declaração foi assinada por Alemanha, Espanha, França, Itália, Holanda, Polônia e Portugal. O grupo afirma que segue acompanhando de perto a situação e apoia o "apelo do povo venezuelano pela democracia e a paz."
"A oposição indica que recolheu e publicou mais de 80% das atas eleitorais elaboradas por cada mesa de voto. Esta verificação é essencial para reconhecer a vontade do povo venezuelano", diz o documento.
O presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão responsável pelas eleições no país e que é presidido por um aliado do presidente, com 51,95% dos votos contra 43,18% do opositor Edmundo Gonzáles. A oposição contesta o resultado, dizendo que Gonzáles venceu com 67% dos votos contra 30% de Maduro, segundo uma contagem paralela.
Os países pedem que os direitos dos venezuelanos de se manifestar seja respeitado bem como a liberdade de se reunir.
Na quinta-feira (1º), Maduro disse ter prendido mais de 1.200 pessoas após os protestos que tomaram o país após a eleição. "Todos os criminosos fascistas vão para Tocorón e Tocuyito, para prisões de segurança máxima, para que paguem pelos seus crimes perante o povo", escreveu em uma publicação na rede social X.
Antes deste grupo de países europeus, Estados Unidos, Panamá, Costa Rica, Peru, Argentina e Uruguai tinham se manifestando, declarando que a oposição venceu Maduro.
Brasil, Colômbia e México emitiram uma nota conjunta na quinta-feira (1º) pedindo a divulgação de todas as atas eleitorais na Venezuela e solução da desavença pelas "vias institucionais".
A Organização dos Estados Americanos (OEA) disse não reconhecer o resultado das eleições no país. Em relatório feito por observadores que acompanharam o pleito, a OEA diz haver indícios de que o governo Maduro distorceu o resultado.
Uma contagem realizada pela Associated Press de atas eleitorais divulgadas na sexta-feira (2) pela oposição do país também mostrou, segundo a agência, que Edmundo González obteve significativamente mais votos nas eleições do que o governo de Maduro reconheceu.
Neste sábado, opositores e apoiadores de Maduro fizeram manifestações na Venezuela. Em Caracas, os dois protestos aconteceram ao mesmo tempo. A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, chegou à manifestação de caminhão, acompanhada por vários colegas políticos, mas não por seu candidato Edmundo González.
"A violência não vai derrubar a verdade", disse.
Corina pediu à população para a manifestação ser pacífica: "Nós não agrediremos". Ela declarou também que o atual presidente não esperava a reação da população, que contesta o resultado divulgado.
Os apoiadores a favor do governo realizaram uma motociata pelas ruas de Caracas.
Maduro disse na quarta (31) que Corina Machado e Edmundo González "têm que estar atrás das grades" e os convocou a "deixarem de ser covardes" e "se apresentarem ao MP para dar a cara a tapa". O presidente também prometeu que "a Justiça vai chegar" para eles.
Íntegra do comunicado
"Declaração conjunta sobre a Venezuela do Chanceler da República Federal da Alemanha, do Presidente do Governo de Espanha, do Presidente da República Francesa, do Presidente do Conselho de Ministros da República Italiana, do Primeiro-Ministro dos Países Baixos, do Primeiro-Ministro da República da Polônia e do Primeiro-Ministro da República Portuguesa.
Expressamos a nossa forte preocupação com a situação na Venezuela após as eleições presidenciais do passado domingo.
Apelamos às autoridades venezuelanas para que divulguem rapidamente todas as atas eleitorais, de forma a garantir a total transparência e a integridade do processo eleitoral. A oposição indica que recolheu e publicou mais de 80% das atas eleitorais elaboradas por cada mesa de voto. Esta verificação é essencial para reconhecer a vontade do povo venezuelano.
Os direitos de todos os venezuelanos, em particular dos líderes políticos, devem ser respeitados durante este processo. Condenamos veementemente qualquer detenção ou ameaça que lhes seja dirigida.
A vontade do povo venezuelano, bem como o seu direito de manifestação pacifica e a liberdade de reunião também têm de ser respeitados.
Vamos continuar com os nossos parceiros a acompanhar de perto a situação e a apoiar o apelo do povo venezuelano pela democracia e a paz."