Advogado especialista em Previdência Social, Rômulo Saraiva
teceu duras críticas ao pacote de corte de gastos anunciado pelo ministro da
Fazenda, Fernando Haddad (PT). De acordo com ele, as medidas de contenção de
gastos enxugam a “gordura de quem tradicionalmente é desnutrido”, ou seja, joga
para os cidadãos mais pobres a responsabilidade de pagar a conta dos gastos
excessivos do governo.
Em coluna publicada
no jornal Folha de S.Paulo, Saraiva observa que a arrecadação está extrapolando
a casa dos R$ 3 trilhões este ano, mesmo assim, há um déficit R$ 105,2 bilhões
nas contas públicas. Para conter os gastos, Lula decidiu atacar o “tecido
social que enfrenta maior vulnerabilidade econômica, que depende de programa
social para existir”.
– Ai de
quem acreditou em Wellington Dias, ministro do Ministério do Desenvolvimento e
Assistência Social, Família e Combate à Fome, que na véspera do anúncio de
Haddad garantiu que as regras do BPC (Benefício de Prestação Continuada) saíram
ilesas no corte de gastos. Não só será mexida, como sofrerá drástica reforma no
BPC, garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso
com 65 anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família – apontou.
De acordo
com o especialista, o governo visa ampliar o conceito de família para
justificar a retirada de benefícios de diversos cidadãos.
–
Historicamente, um dos requisitos do BPC é a miserabilidade, cujo interessado é
investigado para saber se a renda per capita de cada membro do grupo familiar é
superior a 1/4 do salário mínimo. A estratégia do governo é ampliar o conceito
de família, para localizar a renda de algum parente distante a fim de
atrapalhar a concessão, mesmo que ele não more na mesma casa. O INSS arrumaria
uma negativa e se eximiria do gasto. O novo requisito considera a renda de
cônjuge e companheiro não coabitante e renda de irmãos, filhos e enteados (não
apenas solteiros), ainda que não vivam sob mesmo teto – apontou.
Rômulo
explica que, atualmente, o cálculo da renda familiar não considera o benefício
no valor de um salário mínimo recebido por deficiente ou idoso.
– O
projeto atropela de uma só vez o direito do Estatuto do Idoso e da Pessoa com
Deficiência (PCD). A renda de todos deve ser contabilizada. Se um casal de
idosos morar junto, o fato de marido ganhar aposentadoria mínima é suficiente
para obstar o ganho do BPC da esposa. Adultos, crianças e adolescentes com
deficiência e impedimento graves podem ser tolhidos do BPC – alertou.
Para
Rômulo, o pacote anunciado pelo governo Lula (PT) ressuscita o conceito de PCD
(Pessoa com Deficiência) e faz o Brasil regredir ao ano de 1993, quando o país
exigia que a deficiência ou impedimento provocassem incapacidade para a vida
independente e trabalho.
– O
Brasil comete todo tipo de excesso de gastos nas suas camadas abastadas, mas na
hora da austeridade fiscal resolveu pegar os mais pobres para pagar a conta –
finalizou.